quinta-feira, fevereiro 12, 2009

O 12 Fevereiro nunca haverá de ser uma data indiferente para nós.


Faria hoje 97 anos uma Senhora que nasceu em S. Pedro do Sul e foi mãe de seis rapazes, dois gémeos. Aos 26 anos teve a coragem que poucas raparigas teriam numa aldeia perdida no ano de 1937. Não quebrou quando percebeu que estava grávida, pediu para casar antes que se notasse a gravidez, e ele disse que não. Ela perdeu um grande amor. A razão baseou-se no preconceito. Ela era pobre, ele era um menino de famílias da Vila. Ela assumiu que estava grávida e sozinha. Mais tarde ele pediu para casar e a minha avó respondeu-lhe que não. Se a tinha deixado passar pela vergonha sozinha, agora era tarde. A minha avó dividiu a vida entre a costura e o trabalho do campo. Adoeceu cedo, tenho poucas memórias dela saudável. Mas era muito bonita. A estatura pequenina, o ar frágil escondia uma mulher muito decidida. Tinha olhos verdes, cabelo comprido sempre penteado numa trança.

12 de Fevereiro de 1938 nasceu o meu tio Fernando. O primeiro de seis irmãos do lado do meu pai. Fruto deste relação. Há um ano atrás falei aqui dele quando nos juntámos para lhe dar um beijo pelos 70 anos. O destino quis que ele nascesse no dia de aniversário da mãe. É comovente. O meu tio é uma homem notável, intelectualmente destaca-se por tudo o que conseguiu. É uma pessoa com defeitos, com qualidades, muito respeitada. É dono de uma vida muito cheia e intensa.

Há uma pessoa que marcou a minha infância e a do meu irmão. A nossa ama Lela faz hoje anos. Acho que também já falei dela. Depois de uma pessoa mal formada, encontrámos esta Santa. Não me lembro quantos anos estivemos na casa dela e do Sr. Pereira. Éramos cinco crianças lá em casa, mas chegámos a ser mais. Uma casa com um quintal muito bem tratado. Lembro-me da minha mãe nos ir lá deixar de manhã a caminho do trabalho. Lembro-me da sesta. Lembro-me quando comecámos a ir para a escola, depois das aulas irmos directos para lá. Lembro-me de sentarmo-nos na mesa do fundo para fazer os trabalhos de casa, depois do almoço. Lembro-me das brincadeiras no quintal enorme que havia, da mesa de pedra cá fora fazer de carro e deixar-nos entretidos durante horas. Lembro-me do descampado do outro lado da rua, adorávamos ir para lá brincar porque juntavam-se os outros miúdos da rua. Lembro-me da sua enorme paciência connosco. Lembro-me do cesto de palha que a minha mãe lá deixava com a nossa comida. Lembro-me do cuidado que ela tinha. Lembro-me de passar horas com as mãos enfiadas na água do tanque ao lado da Lela a lavar roupa. Lembro-me de estar empoleirada no portão a vê-la a tratar das rosas. Lembro-me do cheiro a batatas fritas quando passávamos a esquina da casa. A alegria que era. E era para todos. Quando fritava batatas para um, todos comiam batatas fritas. Até hoje é um mistério a forma como ela geria os nossos almoços tão bem. Lembro-me quando nos mandava vestir a roupa de sair para irmos à rua. Lembro-me das novelas. Lembro-me de jantarmos lá em casa porque os meus pais faziam serão e preparar-nos para a minha mãe nos ir buscar. Lembro-me quando estávamos doentes, a Lela tratar-nos tão bem. Os meus pais são lhe eternamente gratos. Lembro-me da hora do lanche. Lembro-me quando íamos de férias no mês de Agosto despedir-me dela com um vou ficar tanto tempo sem vir para cá. É uma grande Senhora. Ela continua muito bonita.