terça-feira, dezembro 09, 2008

A Turma. Entre les murs

Um olhar áspero sobre o papel da escola, o desafio de ensinar e os conflitos diários dentro da sala de aula. É um filme que deixa-nos a pensar depois de sairmos da sala do cinema. Imagino que para os alunos actuais e professores, o filme seja uma enorme fotografia do dia a dia. O filme acompanha durante um ano lectivo a vida do professor de francês do 8º ano e dos seus alunos, dentro da escola. Existem ali muitas atitudes e brincadeiras que lembramo-nos de ter naquela idade. A exploração de pequenos deslizes do professor. A vontade de questionar tudo o que nos era ensinado.

A critica e o público fazem-lhe uma vénia. A actuação do professor François Bégaudeau (que adaptou para o cinema o seu livro autobiográfico) é incrível.



O professor François, interpretado pelo próprio François Bégaudeau, professor que escreveu o livro que foi o ponto de partida para este filme. A turma é composta por actores não-profissionais que foram escolhidos entre alunos de um liceu francês, com quem o realizador trabalhou todas as semanas durante um ano lectivo em ateliês de improvisação. O filme é considerado um retrato exemplar das questões da educação e do desafio de ensinar.

"A Turma" não fala de uma escola, de uma turma, de um professor: fala de todas as escolas, de todas as turmas, de todos os professores, qualquer que seja o país ou a cidade. O que resulta do dispositivo que Laurent Cantet montou, aplicando as técnicas do documentário à ficção, é um dos mais notáveis filmes que vimos em 2008, muito próximo do sublime.

Durante a rodagem, todos, adultos e adolescentes, viveram personagens criadas na fronteira entre o que estava determinado e o que cada um trouxe da sua experiência pessoal. Sem dúvida que isso explica muito do poder de "A Turma": um fortíssimo efeito de real, uma convicção profunda, uma absoluta credibilidade de personagens e situações. Aquela sala de aula tem, sobre o espectador, o efeito de um campo magnético, que o atrai, o prende, e o implica muito para além de questões de reconhecimento ou de identificação. Culturalmente, a turma do professor é a alegre misturada que imaginamos em muitos liceus por essa Europa fora: filhos de imigrantes, do Magrebe, de África, da China, das Antilhas (e, conspicuamente denunciado por uma t-shirt encarnada, um representante da lusodescendência).