domingo, maio 04, 2008

Por detrás da simplicidade deste texto esconde-se uma variedade de interpretações

O pastor amoroso perdeu o cajado
E as ovelhas tresmalharam-se pela encosta,
E de tanto pensar, nem tocou a flauta que trouxe para tocar.

Ninguém lhe apareceu ou desapareceu,
Nunca mais encontrou o cajado.
Outros, praguejando contra ele, recolheram-lhe as ovelhas,
Ninguém o tinha amado, afinal.

Quando se ergueu da encosta e da verdade falsa, viu tudo:
Os grandes vales cheios dos mesmos verdes de sempre,
As grandes montanhas longe, mais reais que qualquer sentimento,
A realidade toda, com o céu e o ar e os campos que existem, estão presentes.

(E de novo o ar, que lhe faltara tanto tempo, lhe entrou fresco nos pulmões)

E sentiu que de novo o ar lhe abria, mas com dor, uma liberdade no peito.

Alberto Caeiro. Pastor Amoroso