terça-feira, janeiro 15, 2008

Excertos

de um blog em que o seu autor teve o bom senso de voltar.

(...) Um livro precisa de conforto. Um livro precisa que ignore a vida que corre lá fora. Quem lê deveria ser obrigado, antes, a fazer um curso de apneia. Mergulhar dentro do livro e tornar-se peixe. Ler não é uma arte. É outrar-se, devir outro. Desaparecer dentro de si próprio. Reconhecer-se.

Porque razão as mulheres têm mais dificuldade em se entregar quando nos entregamos nós a elas? Não deveria ser o contrário? Quanto mais seguras, protegidas, amadas e acarinhadas se sentissem, mais confortáveis se sentiriam? E mais na relação investiriam, uma vez que, desta forma, habitavam em porto seguro? Tampouco falo das que quando pouco lhes ligam e/ou dão com os pés, rastejam humilhando-se e perdendo a noção da sua validade como pessoas…

Gosto muito de beijos. Pequenos, grandes, quentes, continuados, entrecortados, poucos, muitos, longos, curtos, com e sem línguas, com e sem dentes. Gosto de brincar com a língua; mais ainda com os lábios ; muito também com os dentes. Gosto de beijar. À bruta. Esclarecido este ponto, há outra manifestação de gostar que ainda mais gosto. O abraço. O abraço é mais, mas muito mais, pessoal e reservado que qualquer beijo. Sempre o senti como a maior (e mais verdadeira) demonstração de carinho entre duas pessoas. Pessoalmente, adoro fechar-me num abraço numa pessoa que goste. Se gostar muito, gosto de lá me perder; de lá me esquecer que estou – ficando. O verdadeiro abraço – e é tão fácil de o sentir (e dar) – é impossível ser falso. Quanto maior a proximidade de alguém em nós, mais gostamos de a abraçar. O abraço consegue criar um envolvimento de verdadeira segurança; de conforto. Com tudo isto, afirmo que o abraço antecede o beijo. Dois namorados (que gostem a sério um do outro), se não se vêm durante algum tempo, encontram-se num; muito antes do(s) beijo(s).Tu, que ainda não sei quem és, quando chegares, abraça-me sim? É que eu gosto. Muito.

um pássaro a voar não-nunca olha para as asas.

O blog tinha acabado porque a minha vida tinha mudado. Deixei que me guiassem num novo caminho e o blog deixou de ter lugar. Era uma viagem onde só cabiam dois. E o blog não fazia parte do grupo. Apercebo-me agora pelas, não sei bem se piores, se melhores razões, mas algo me leva a crer que melhores, (embora ainda ontem pensasse o contrário) que sinto falta de gostar à bruta e, daí decorrente, que de mim gostem na mesma medida. Acontece que, nesta viagem que vos falo acima, o carro parou numa estação de onde saiu a companheira de viagem e questiono-me se volto a deixar entrar o blog, se não. É que detesto viajar sozinho. Preciso, está-me intrínseco na alma, de comunicar. Prefiro em privado, confesso. Mas a partir desta data, este vai ser O meu espaço privado. Este. Onde podem entrar pessoas mas que não podem ficar. Fico eu. Eu com ele. Estamos bem assim. Não volto a deixar ninguém ficar. A menos que o mereça. Sim, a menos que o mereça. Não será muito difícil. Basta estar lavado de alma. Eu estou. Magoado, mas afinal não tanto assim. Triste, mas com um sorriso a despontar e a querer largar-se e perder-se em mim. Assim, como sempre fui. Como sou. Como sempre vou ser. Como não tenho sido e, pena, só o ter percebido hoje, aqui e agora. Bom dia!

Como o autor nunca o apagou definitivamente, eu também nunca o apaguei da minha lista de favoritos. De vez em quando passava lá e relia alguns textos. Hoje passei e vi o espaço novamente a respirar.