Vi a minha professora de português do 10º /12º e Directora de turma. Passaram-se onze anos.
Quando a vi não fazia ideia se ela se ia lembrar de mim. Mas estava disposta a apresentar-me. Lembra-se de mim professora Ivone? Ela olhou para mim e pôs um sorriso tão grande: Belinha! E um abraço… claro que me lembro.
Nem sempre tivemos uma relacionamento fácil com ela, era muito rígida e exigente e chata. Nós viemos bastantes vezes passear cá fora com o convite dela. Grandes discussões naquela sala de aula. Mas com ela aprendemos muito. O hábito pela leitura devo-lhe isso.
Apanhámos o primeiro ano da reforma escolar. Desentendimentos do outro mundo porque recusava-se a aceitar que comprássemos os resumos da Porto Editora. Vocês no exame nacional não se safam, se vão com essa atitude. Para o que eu estava guardada, ao final destes anos. Nós dizíamos que ela era insuportável.
Mas não era. Foi uma grande professora, as aulas estavam muito bem preparadas. Levou-nos algumas vezes teatro, a Santarém quando estudávamos as Viagens na minha Terra, a Évora por causa da Aparição do Virgílio Ferreira. Fizemos um projecto área-escola extraordinário sobre o cerco a Lisboa, com o apoio dela.
Sempre foi exigente. Hoje ela disse-me eu adorava-vos. Foram uma das minhas melhores turmas, muito criativos. Para vos conseguir a atenção obrigavam-me a dar uma volta diferente. Gostavam de brincar, isso fazia parte.
Perguntou-me por muita gente. Percebeu que mantemo-nos próximos. Relembrámos algumas situações. O nosso 12º ano foi complicado. Tivemos as notas congeladas. E na altura ela foi a única que mostrou que tínhamos alguma razão no que estávamos a defender.
Adorei vê-la tão bem. A última notícia dela, ela estava muito doente. Eu hoje disse-lhe isso e ela com sua forma directa de dizer as coisas: pensavam que eu tinha morrido?! Já não está a dar aulas. Ligou-se a outros projectos. Sempre fez investigação da obra de Eça Queirós. E vai ser avó em Janeiro.
Quando eu apitei que tinha estado com a Ivone, choveram sm's. Quiseram saber como é que ela estava, se lembrava-se de nós. Sim, lembra-se um a um.
Anabela eu ganhei o dia. Eu sei que sim, porque senti o orgulho dela quando lhe disse que todos estávamos bem, uns muito bem.
